domingo, 20 de março de 2011

Este CACO é do livro de Crônicas de Paulo Coelho...

'O viajante está sentado no meio do mato, olhando uma casa humilde a sua frente. Já estive lá antes, com alguns amigos, e na época tudo que conseguira notar foi a semelhança entre o estilo da casa e o de um arquiteto galego - que viveu há muitos anos, e jamais colocou os pés naquele local.
A casa fica perto de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, e é toda construída com cacos de vidro. Seu dono, Gabriel, sonhou em 1899 com um anjo que lhe dizia: "Constrói uma casa de cacos". Gabriel começou a colecionar ladrilhos quebrados, pratos, bibelôs e jarras partidas. "Tudo caquinho trasformado em beleza", dizia Gabriel de seu trabalho. Durante os primeiroa 40 anos, os moradores locais afirmavam que era louco. Depois alguns turistas descobriram a casa, e começaram a trazer os amigos; Gabriel virou gênio. Mas a novidade passou - e Gabriel voltou ao anonimato.
Mesmo assim continuou construindo; aos 93 anos de idade, colocou o último caco de vidro. E morreu.
O viajante acende um cigarro; fuma em silêncio. Hoje não está pensando na semelhança entre a casa de Gabriel e a arquitetura de A. Gaudí. Olha os cacos, reflete sobre sua própria existência. Também ela - como a de qualquer pessoa - é feita de pedaços de tudo que se passou. Mas, em determinado momento, estes fraguimentos começam a tomar forma.
E o viajante relembra um pouco do seu passado, vendo os papéis em seu colo. Ali estão pedaços de sua vida: situações que viveu, trechos de livros que sempre recorda, ensinamentos de seu mestre, histórias dos amigos, fábulas que algum dia lhe contaram. Ali estão reflexões sobre o seu tempo, e sobre os sonhos de sua geração.
Da mesma maneira que um homem sonhou com um anjo e contruiu a casa que está diante dos seus olhos, ele tenta ordenar estes papéis - para compreender sua própria construção espiritual. Lembre-se de que, quando criança leu um livro de Malba Tahan chamado Maktub! e pensa:
"SERÁ QUE EU DEVIA FAZER O MESMO?"

MAKTUB'

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